quarta-feira, 2 de setembro de 2009



Há alguns anos atrás, ainda na condição de filha adolescente, eu tinha uma gata (da qual não me lembro sequer o nome, mas que era a mãe do Sucuri, um gato muito figura). Por ela ter ido para a nossa casa ainda bebê (ao contrário dos outros, que nos adotavam ou eram adotados já adultos), pude acompanhar as diferentes fases da sua vida e em especial a sua primeira gestação. Não que isso me causasse grandes comoções ou interesse, mas me recordei dela porque pude ver de perto um parto pela primeira vez. Não que o parto em si tivesse também sido marcante (embora me chamou a atenção o fato de quase não existir sangue, ser silencioso e “limpo”, coisa que no meu imaginário permeado de imagens criadas por filmes e TV fosse impossível). O que realmente me marcou foram os momentos antes dele. Sua inquietação nos dias anteriores, como se algo lhe faltasse, como se houvesse uma urgência em terminar o que não estava ainda pronto. Seu olhar de “gratidão” quando lhe arrumei uma caixinha com panos limpos em um lugar tranqüilo depois de finalmente perceber o que estava para acontecer. Seu silêncio quase real (de realeza) e digno, embora cheio de sofrimento; sua ausência de sons e miados quando as contrações começaram a ficar realmente fortes e visualmente perceptíveis para mim. Seus olhos grandes e úmidos, ao mesmo tempo assustados e confiantes durante o trabalho de parto. Acho que poucos momentos nos mostram tanto a nossa real “condição” (talvez apenas a morte) e nos igualam em todos os aspectos com os nosso outros irmãos. Tão simples e real. Tão próximo e cada vez mais distante (no sentido do controle pessoal e do respeito).

A inquietude já começou também a me acompanhar...

3 comentários:

  1. Pode até estas inquieta, mas está cercada de gente que te ama muito... aposto que a mãe do Sucuri não tinha um gatão gordo do lado e nem uma gatinha que fica sempre debaixo da mesa a fazer carinhos na sua barriga.
    Inquietude sim, solidão nunca.
    Vou sempre segurar a sua mão.
    Te amo muito.

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  2. Pois é, lindo texto e tal, mas... O nome da gatinha era Michelinha, ela veio do sítio, e a caixa que vc deu para ela criar estava cheia de roupas da Barbie, inclusive das minhas Barbies. Aháaa, achou que eu tinha esquecido né, ser dissimulado...

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